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Minha crônica "Fantasia de bate-bola" foi publicada na coletânea de crônicas Prêmio Off Flip 2023, lançada na Festa Literária Internacional de Paraty em 25 de novembro de 2023.



Fantasia de bate-bola


Na infância, comentei com a família que queria uma fantasia de bate-bola. Minha avó paterna quase caiu pra trás, indignada, com uma expressão de estranhamento que me deixou na cabeça aquela interrogação que surge nas personagens de história em quadrinhos. Que bate-bola o quê! Isso é coisa de menino! Minha mãe desconversou, ninguém me levou a sério e a fantasia de bate-bola nunca fez parte do meu carnaval.


Me lembrei desse episódio quando li uma reportagem sobre mulheres ganhando esse espaço e se fantasiando com máscaras, bolas e sombrinhas. Começaram a participar dos grupos com fantasias denominadas femininas, mas depois, enfim, passaram a vestir o traje completo dos bate-bolas. Ao ler isso, vibrei por saber que muitas meninas hoje em dia, se quiserem brincar carnaval dessa forma, podem ter sua vontade realizada com mais facilidade.


A mesma reportagem ressaltava que, vestidas de bate-bola, as mulheres se libertavam das imposições que sofriam, de modo que a máscara, por esconder suas identidades, possibilitava-lhes dar cambalhotas, rolar no chão, pular e dançar. Ou seja: escondidas naqueles panos, podiam viver; irreconhecíveis, dentro de uma fantasia que permitia serem confundidas com homens, tinham o crivo social necessário para fazer o que desejavam, sem julgamentos.


A criança que eu fui ainda se espanta com este mundo em que mulher só pode pular, dançar, rolar no chão e dar cambalhota – em suma, se divertir – sem ser cobrada se estiver sob o anonimato de uma máscara. E nós percebemos isso desde cedo. O que eu buscava com a fantasia de bate-bola, afinal, era a alegria.

 

Atualizado: 25 de abr.


A Festa Literária Internacional de Paraty de 2023 chegou para mim com novidade, por ter sido minha primeira vez na FLIP como autora. Foi também a primeira vez em que pude estar por lá em todos os dias do evento.


Programação:


Dia 23 de novembro, às 22h, em local a definir

Encontro de autoras da revista literária Contos de Samsara


Dia 24 de novembro, às 19h30, no Sesc Santa Rita

Lançamento da coletânea de crônicas do Prêmio Off Flip, com a publicação de minha crônica "Fantasia de bate-bola"

 

Minha crônica "Conversa de família" foi destaque na antologia +Humor, lançada pelo Selo Off Flip em 2023.


Capa da edição
Capa da edição

Conversa de família


Já faz tempo que minha mãe e meu pai se separaram, mas isso nunca os impediu de continuarem amigos. Na verdade, a amizade entre os dois até se tornou mais leve, mais aparente, após a separação. Numa noite, por exemplo, depois de trabalhar o dia todo, ele, do alto de seus cinquenta anos, chegou indignado em casa comentando com a minha mãe:


– Pô, caraca! Aquela mulher me mandou mensagem perguntando o que eu estava fazendo online no zap de madrugada. É mole? Fuçando minha vida a essa hora.

– E quando é que tu vai dar uns pega nessa mulher? Ela tá te querendo.


– Que dar pega o quê! Vou dar pega nada!


– Deixa de ser frouxo! 


– Frouxo... eu, hein. Que coisa esquisita, tirar print da tela pra dizer que viu o “online”...


Ele acha um absurdo a modernidade do stalker, esse negócio de ver o que o outro faz por meio de redes sociais. Talvez nem saiba o significado de stalkear. Não entende que, quando a gente tá a fim de alguém, pode acabar mandando uma mensagem de madrugada, mesmo que na maioria das vezes isso esteja condicionado a uma total falta de assunto.


Poucos dias depois do ocorrido, fomos os três comer num trailer da nossa rua, onde costumávamos pedir um x-tudo acompanhado de batata frita. Na mesa, voltamos ao assunto, e meu pai – meio sem graça, rindo da situação – continuou sem acreditar que uma pessoa se prestava ao papel de bisbilhotar a vida da outra no whatsapp, ainda mais de madrugada. Eu havia acabado de mencionar o nome da tal moça, quando minha mãe me interrompeu, direcionando a pergunta ao meu pai:


– Tu não vai comer?


Interferi na mesma hora, num misto de constrangimento e espanto: 


– Mãe!


– Que é, garota? A batata! Perguntei se ele não ia mais comer a batata frita...


– Ahhh, bem. 


Gargalhamos.

 
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© Todos os textos são de autoria de Thaís Velloso, exceto quando indicado pela autora. 

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