Em 2020 fui convidada pela Rádio Arquibancada para conversar sobre Carnaval. Estávamos já com uma saudade enorme dos desfiles das Escolas de Samba, e a incerteza sobre os rumos da folia fez com que nós, apaixonados por Carnaval, nos reuníssemos com alguma regularidade para falar dessa paixão. A primeiro conversa de que participei foi ao ar em abril; e em setembro teve outra.

- 15 de abr.
Depois da música em homenagem ao Aldir, nasceu outra, também em parceria com o Nelson.
A ideia de fazer essa letra veio da lembrança de um dia eu ter ido ao Bode Cheiroso e ter reparado que, numa mesa ao lado da minha, um homem ouvia, sem incomodar ninguém, "Disritmia" do Martinho da Vila. Eu tinha tomado algumas cervejas e só depois de algum tempo notei, pela proximidade das mesas, que alguém ouvia "Disritmia".
Durante a pandemia, trancada em casa, me lembrei desse episódio e criei o personagem que aparece na composição "Bar do Bode".
BAR DO BODE (Nelson Borges/ Thaís Velloso)
No bar do Bode
Ouço um samba do Martinho
Mais um de porre
Bebe e canta sozinho
Aqui na Canabarro
Eu já gargalhei
Me confessei
E se bem sei
Fiz o diabo
Chego bem cedo
Me embriago lentamente
E desta mesa vejo a vida melhorar
Entre torresmos, cervejas e batidas
Fico mais certa de que estou no meu lugar
No bar do Bode
Ouço um samba do Martinho
Mais um de porre
Bebe e canta sozinho
Aqui na Canabarro
Eu já gargalhei
Me confessei
E se bem sei
Fiz o diabo
O camarada segue na disritmia
Não sei de nada, mas, não nego, arriscaria:
Ele sente a falta daquela mulher
Que sabiamente preferiu a boemia
E o tempo passa
Como um samba do Martinho
Devagarinho vejo o dia entardecer
Quando anoitece, peço um pernil na orgia
Se pudesse eu ficaria
Até o sol renascer
No bar do Bode
Ouço um samba do Martinho
Escrevi uma letra de música pela primeira vez logo após a morte (causada pela Covid-19) de Aldir Blanc, cronista de nossa cidade que sempre admirei muito. A letra, composta em 2020, é uma homenagem pro Aldir. Mandei mensagem pro Nelson, grande amigo meu, sugerindo uma parceria. Ele topou (ô, sorte!), fez a melodia, mexemos na letra pra ajustar e enfim nasceu.
BALCÃO DA ETERNIDADE (Nelson Borges/ Thaís Velloso)
Um artista criado nas calçadas
A própria rua da infância avisava
Um menino de Vila Isabel
Via a lua numa caixa d'água
Quando saía encontrava
Numa esquina paradeiro
Se pedia uma bebida, declarava
Que o amor da sua vida
era o morro do Salgueiro
Joga fora outra guimba de cigarro
Faz um samba de mandinga com o Moa
Dá uma grana pro chofer que leva o carro
Tira um sarro
Vai levando a vida à toa
Num batuque com a brahma no copo
Era arrastado pelo bloco
Foi boêmio sem igual dessa cidade
Descreve o Rio sem nenhum pudor
Do Brasil conhece a identidade
Nossa sina verde-amarela
Hoje se debruça na janela
E vê o poeta no balcão da eternidade
Ouço o tempo então se perguntar:
Como equilibrar esta saudade?